É claro que não poderia deixar de abordar a série portuguesa do momento e que tem conquistado os fãs um pouco por todo o mundo. Sob a chancela da Netflix, Rabo de Peixe, a antiga aldeia piscatória que dá o nome à série, serve de cenário central desta história empolgante, baseada em factos reais que remontam ao início do século. E o que, efetivamente, aconteceu para abalar, subitamente, a pacatez da pequena freguesia da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel?

Tudo começou, em 2001, quando um traficante italiano, oriundo da Venezuela, foi obrigado a fazer uma paragem no meio do Atlântico, ao largo dos Açores, devido a um problema técnico. O veleiro sofreu um naufrágio e cerca de meia tonelada de cocaína foi largada ao mar. Os fardos foram dando à costa e desencadearam uma autêntica corrida ao pó branco por parte da população local.

Esta verdadeira loucura viria a assumir, mais tarde, contornos devastadores: enquanto uns utilizavam a droga, unicamente, para consumo próprio, outros, com olho para o negócio, serviam-se dela para obter fortuna. A maior parte consumia em doses industriais e muitos morreram por overdose, acontecimentos retratados ao longo dos sete episódios de Rabo de Peixe.

Devo dizer que esta série de produção nacional conquistou-me desde o início. As tradições, os usos e costumes, assim como os objetos que remontam à época (os telemóveis e os computadores, por exemplo), não foram negligenciados na montagem do cenário. Alguns dos atores que fazem parte do elenco até são naturais dos Açores, mas o sotaque próprio da região foi, neste caso, ignorado, o que originou algumas críticas após a sua estreia. Os diálogos são, genericamente, engraçados, as piadas oportunas, mas pecam num pormenor: a exacerbada utilização de linguagem inapropriada. 

Se a trama em si é cativante o suficiente para me prender até ao fim, já o último episódio deixou-me algo desiludido. Ficaram várias situações por explorar, outras subaproveitadas e algumas pendentes, o que deixa antever a possibilidade de haver uma segunda temporada. Veremos.