As maravilhas do Nordeste
Já vai longe o tempo em que tive a oportunidade de realizar um sonho que outrora acharia difícil de concretizar: ir de férias ao Brasil. Estávamos em 2003, mas lembro-me de tudo como se fosse ontem. Das imensas horas de viagem, da chegada ao Recife - onde montei, digamos, o “quartel general” -, e dos percursos pelo nordeste brasileiro que me conduziram a outros belos locais de eleição como Porto Galinhas, Natal ou João Pessoa. No fundo, um mundo que tive a felicidade de explorar.
Mas comecemos pelo início desta aventura. A viagem de avião, que ligou Lisboa a Recife, durou cerca de nove horas. Bastante tempo para quem não estava habituado a estas andanças. Todavia, custou menos que a viagem de regresso a Portugal, onde aí sim fui vencido pelo cansaço.
Assim que cheguei ao Recife, a primeira impressão é que havia desembarcado numa cidade cosmopolita. Uma enorme metrópole, com edifícios altos, como a unidade hoteleira em que fiquei alojado, situada bem perto da praia da Boa Viagem.
O cenário perfeito em pleno mês de agosto, altura do Inverno no Brasil. No Nordeste, porém, o clima é tropical (enquanto lá estive, as temperaturas foram, invariavelmente, superiores a 30 graus) e esta estação do ano só parece existir quando o Sol se põe por volta das 17h30.
Apesar de ter ficado instalado no Recife, não estive muito tempo na capital do estado de Pernambuco. À noite, recordo-me, os estabelecimentos fechavam cedo e as entradas dos hotéis eram vigiadas, em permanência, pela polícia armada, fruto da insegurança que se sentia nas ruas. Ainda visitei o Recife Antigo e dei um salto a Olinda (cidade colonial da costa nordeste que muito se assemelha a Portugal), onde aí pude constatar os reais valores, costumes e tradições do típico povo nordestino.
Comer marisco dentro da lagoa
A odisseia por terras brasileiras prosseguiu, depois, rumo a Itamaracá (significa “pedra que canta”), uma ilha situada na costa nordestina e que tem como ex-libris o Forte Orange, na entrada sul do canal de Santa Cruz. Após uma viagem curta de autocarro, atravessámos o estuário a bordo de um “catamaran” (onde até podíamos deitar-nos numa rede a beijar a água).
Aí pude desfrutar de toda a beleza natural daquela região. Uns belos mergulhos nas águas cristalinas da ilha e comer um bom marisco na esplanada local, com os pés nas águas da Lagoa Pai Tomé.
Mas como nem tudo é perfeito, aconteceu um percalço: enquanto estávamos a desfrutar do momento, a comer camarões e a saborear umas caipirinhas, a máquina fotográfica (daquelas antigas com rolo de película) acabou por cair na água! “Lá se foram as fotos à vida!”, pensámos nós com um ar naturalmente desalentado. Mais tarde, percebemos que se perderam alguns registos, mas que se tinha salvo a maioria das fotografias, autênticas relíquias desta inesquecível jornada.
A próxima paragem deu pelo nome de Porto Galinhas, famosa estância balnear pertencente ao município de Ipojuca, no estado de Pernambuco. Considerada, por diversas vezes, a melhor praia do Brasil, é um autêntico polo turístico e percebe-se porquê. Mal lá cheguei, fiquei deslumbrado a olhar para as suas piscinas naturais. Com a maré baixa, naveguei numa jangada à vela (conduzida pelo jangadeiro) pelas águas calmas e cristalinas da praia e por entre corais e recifes – onde até está localizado o mapa do Brasil desenhado pelo rochedo -, que emprestam uma beleza única à região.
Já apanhar banhos de sol no extenso areal branco de Porto Galinhas é tudo menos… sossegado. Vendedores ambulantes há aos montes e aparecem em todo o lado. Não nos largam e, se for caso disso, tocam e cantam de improviso só para nos cativar e vender os seus produtos regionais.
Dunas de Natal são como divãs
Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte, foi outro dos destinos escolhidos durante estes 15 dias de férias em terras de Vera Cruz. É também dos mais procurados pelos turistas por tudo aquilo que oferece. A praia da Ponta Negra faz parte do postal ilustrado de uma cidade com as dunas de Genipabu e as lagoas de Jacumã e Pitangui como principais atrativos.
Foi neste cenário deslumbrante que pude fazer um passeio de buggy. Os passeios, avançou o guia turístico, podem ser "com ou sem emoção". Claro que optámos com emoção, o que significa mais velocidade e manobras radicais pelas dunas. E a verdade é que se vive uma experiência ímpar, repleta de adrenalina. Outras atividades bem divertidas que experimentei foi a aerobunda (sobrevoar a lagoa por uma corda) e a skybunda (deslizar de tapete pelas dunas). Como diz a música dos GNR, "as dunas são (mesmo) como divãs"...
Para terminar bem o dia, nada melhor do que passear tranquilamente pelo areal em cima de um… dromedário, como se estivéssemos em pleno deserto do Saara. Mais a Sul, no caminho pela falésia de argila vermelha, passei ainda pela bonita vila de Pipa, conhecida pelos seus resorts de luxo.
Quer com ou sem emoção?
Guia turístico [passeio de buggy]
Pôr do sol ao som do "Bolero de Ravel"
Por fim, outro destino que me seduziu foi João Pessoa, capital do estado da Paraíba. É nesta cidade que fica situada a Ponta do Seixas, o ponto mais oriental do continente americano. Trata-se de uma cidade bonita, moderna e com um pôr do sol único, que se pode apreciar, ali bem perto, no Cabedelo.
Todos os dias, ao fim da tarde, a praia fluvial do Jacaré é visita obrigatória para quem quiser desfrutar de um espetáculo imperdivel, ao som do “Bolero”, de Ravel, tocado pelo dono do bar, o saxofonista "Jurandy do Sax", num pequeno barco nas águas do rio Paraíba. Aliás, Jurandy sincroniza os acordes de tal forma, que parece que é ele quem determina quando o sol se põe no horizonte…
E assim foram as minhas férias no Brasil, onde o Forró (género musical da região), a água de coco (tão boa!), a carne de sol (típica da cozinha nordestina) e a simpatia do povo local são o cartão de visita daquela região do país-irmão.