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A vida num só dia

Um lugar de partilha de histórias, meras opiniões, puras reflexões ou simples desabafos

A vida num só dia

Um lugar de partilha de histórias, meras opiniões, puras reflexões ou simples desabafos

Sab | 29.10.22

As maravilhas do Nordeste

Pedro

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Já vai longe o tempo em que tive a oportunidade de realizar um sonho que outrora acharia difícil de concretizar: ir de férias ao Brasil. Estávamos em 2003, mas lembro-me de tudo como se fosse ontem. Das imensas horas de viagem, da chegada ao Recife - onde montei, digamos, o “quartel general” -, e dos percursos pelo nordeste brasileiro que me conduziram a outros belos locais de eleição como Porto Galinhas, Natal ou João Pessoa. No fundo, um mundo que tive a felicidade de explorar.

Mas comecemos pelo início desta aventura. A viagem de avião, que ligou Lisboa a Recife, durou cerca de nove horas. Bastante tempo para quem não estava habituado a estas andanças. Todavia, custou menos que a viagem de regresso a Portugal, onde aí sim fui vencido pelo cansaço.

Assim que cheguei ao Recife, a primeira impressão é que havia desembarcado numa cidade cosmopolita. Uma enorme metrópole, com edifícios altos, como a unidade hoteleira em que fiquei alojado, situada bem perto da praia da Boa Viagem.

O cenário perfeito em pleno mês de agosto, altura do Inverno no Brasil. No Nordeste, porém, o clima é tropical (enquanto lá estive, as temperaturas foram, invariavelmente, superiores a 30 graus) e esta estação do ano só parece existir quando o Sol se põe por volta das 17h30.

Apesar de ter ficado instalado no Recife, não estive muito tempo na capital do estado de Pernambuco. À noite, recordo-me, os estabelecimentos fechavam cedo e as entradas dos hotéis eram vigiadas, em permanência, pela polícia armada, fruto da insegurança que se sentia nas ruas. Ainda visitei o Recife Antigo e dei um salto a Olinda (cidade colonial da costa nordeste que muito se assemelha a Portugal), onde aí pude constatar os reais valores, costumes e tradições do típico povo nordestino.

 

Comer marisco dentro da lagoa

A odisseia por terras brasileiras prosseguiu, depois, rumo a Itamaracá (significa “pedra que canta”), uma ilha situada na costa nordestina e que tem como ex-libris o Forte Orange, na entrada sul do canal de Santa Cruz. Após uma viagem curta de autocarro, atravessámos o estuário a bordo de um “catamaran” (onde até podíamos deitar-nos numa rede a beijar a água).

Aí pude desfrutar de toda a beleza natural daquela região. Uns belos mergulhos nas águas cristalinas da ilha e comer um bom marisco na esplanada local, com os pés nas águas da Lagoa Pai Tomé.

Mas como nem tudo é perfeito, aconteceu um percalço: enquanto estávamos a desfrutar do momento, a comer camarões e a saborear umas caipirinhas, a máquina fotográfica (daquelas antigas com rolo de película) acabou por cair na água! “Lá se foram as fotos à vida!”, pensámos nós com um ar naturalmente desalentado. Mais tarde, percebemos que se perderam alguns registos, mas que se tinha salvo a maioria das fotografias, autênticas relíquias desta inesquecível jornada.

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A próxima paragem deu pelo nome de Porto Galinhas, famosa estância balnear pertencente ao município de Ipojuca, no estado de Pernambuco. Considerada, por diversas vezes, a melhor praia do Brasil, é um autêntico polo turístico e percebe-se porquê. Mal lá cheguei, fiquei deslumbrado a olhar para as suas piscinas naturais. Com a maré baixa, naveguei numa jangada à vela (conduzida pelo jangadeiro) pelas águas calmas e cristalinas da praia e por entre corais e recifes – onde até está localizado o mapa do Brasil desenhado pelo rochedo -, que emprestam uma beleza única à região.

Já apanhar banhos de sol no extenso areal branco de Porto Galinhas é tudo menos… sossegado. Vendedores ambulantes há aos montes e aparecem em todo o lado. Não nos largam e, se for caso disso, tocam e cantam de improviso só para nos cativar e vender os seus produtos regionais.

 

Dunas de Natal são como divãs

Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte, foi outro dos destinos escolhidos durante estes 15 dias de férias em terras de Vera Cruz. É também dos mais procurados pelos turistas por tudo aquilo que oferece. A praia da Ponta Negra faz parte do postal ilustrado de uma cidade com as dunas de Genipabu e as lagoas de Jacumã e Pitangui como principais atrativos.

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Foi neste cenário deslumbrante que pude fazer um passeio de buggy. Os passeios, avançou o guia turístico, podem ser "com ou sem emoção". Claro que optámos com emoção, o que significa mais velocidade e manobras radicais pelas dunas. E a verdade é que se vive uma experiência ímpar, repleta de adrenalina. Outras atividades bem divertidas que experimentei foi a aerobunda (sobrevoar a lagoa por uma corda) e a skybunda (deslizar de tapete pelas dunas). Como diz a música dos GNR, "as dunas são (mesmo) como divãs"...

Para terminar bem o dia, nada melhor do que passear tranquilamente pelo areal em cima de um… dromedário, como se estivéssemos em pleno deserto do Saara. Mais a Sul, no caminho pela falésia de argila vermelha, passei ainda pela bonita vila de Pipa, conhecida pelos seus resorts de luxo.

Quer com ou sem emoção?

Guia turístico [passeio de buggy]

Pôr do sol ao som do "Bolero de Ravel"

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Por fim, outro destino que me seduziu foi João Pessoa, capital do estado da Paraíba. É nesta cidade que fica situada a Ponta do Seixas, o ponto mais oriental do continente americano. Trata-se de uma cidade bonita, moderna e com um pôr do sol único, que se pode apreciar, ali bem perto, no Cabedelo.

Todos os dias, ao fim da tarde, a praia fluvial do Jacaré é visita obrigatória para quem quiser desfrutar de um espetáculo imperdivel, ao som do “Bolero”, de Ravel, tocado pelo dono do bar, o saxofonista "Jurandy do Sax", num pequeno barco nas águas do rio Paraíba. Aliás, Jurandy sincroniza os acordes de tal forma, que parece que é ele quem determina quando o sol se põe no horizonte…

E assim foram as minhas férias no Brasil, onde o Forró (género musical da região), a água de coco (tão boa!), a carne de sol (típica da cozinha nordestina) e a simpatia do povo local são o cartão de visita daquela região do país-irmão.

Dom | 23.10.22

À descoberta de Londres

Pedro

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Existe algo de estranho e diferente nos ingleses. O Brexit é apenas um típico exemplo de um Reino Unido que, afinal, se arrependeu de se unir a uma Europa com a qual, definitivamente, não se identificava. Não sendo o único país com uma monarquia, faz dela a honra e o orgulho nacional. Nada a apontar. Todavia, os britânicos sempre se destacaram dos demais por irem contra as “regras” dos outros. Seja por conduzirem pela esquerda, por utilizarem táxis (black cabs) ou cabines telefónicas tipicamente britânicas ou mesmo por comerem o tradicional “brunch” que dispense as duas principais refeições do dia.

Quando fui a Londres, obviamente que pude provar o tradicional pequeno-almoço inglês (composto por tostas, salsinhas, bacon, ovo mexido) antes de me pôr ao caminho. Viajar de metropolitano foi, todavia, para mim, uma autêntica aventura. É que são tantas as linhas que um simples mapa não é suficiente para um mero turista se perder.

Quanto à simpatia do povo britânico, não é, decididamente, o seu ponto forte. Uma vez, só para dar um exemplo, pedi a um cidadão inglês que me auxiliasse a perceber para onde iria uma composição de metro e a resposta foi tão seca e apressada que fiquei a pensar se me expressara bem na lingua de Shakespeare.

Mas vamos antes falar de coisas boas. Por exemplo, as ruas de Londres. São tão limpas que não se vê um papel que seja no chão. E quanto à circulação de viaturas, elas não se podem queixar de buracos no pavimento.

Londres é uma cidade cosmopolita e encantadora. Tem uma imensa área verde, o Hyde Park, que se situa junto aos jardins de Kensington. Quem por lá passar, certamente irá tropeçar num esquilo sorrateiro. 

Para ir fazer compras, se não quiser se perder pelas ruas de Londres, tem de ir aos famosos armazéns Harrods, uma espécie de El Corte Inglês lá da zona. Ao invés, se preferir passear ao ar livre sempre tem a possibilidade de ir visitar Notting Hill (que deu o título ao célebre filme protagonizado por Hugh Grant e Julia Roberts), bairro onde se situa a boémia Portobello Road, famosa pelo mercado de antiguidades e moda vintage. Há de tudo: lojas, bares, artesanato, comes e bebes, venda ambulante...

Quem for a Londres, também perceberá que se trata da capital dos musicais. É tanta a oferta que o mais difícil é escolher. Fantasma da Ópera ou o Mamma Mia são apenas alguns dos ínúmeros cartazes de espetáculos que podemos ver espalhados pelas ruas. Aliás, nesta cidade respira-se cultura. Se estiver com vontade de visitar museus, existem, pelo menos, dois que merecem uma visita obrigatória: o Museu de História Natural e o Museu de Cera "Madame Tussauds".

Por último, não deve ainda deixar de visitar o London Eye - roda-gigante que permite usufruir de uma espetacular vista panorâmica sobre a cidade -, e de passear junto ao rio Tamisa, destacando-se a travessia das célebres pontes da City:  a Tower Bridge e a Ponte de Westminster.

Sex | 21.10.22

Malas pelos ares!

Pedro

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Há uns anos, mais precisamente em 2010, viajei, em trabalho, rumo à Lituânia, país onde não imaginaria viver situações insólitas e cheias de peripécias, dignas dos melhores filmes de Hollywood. Não acredita? Pois bem. Comecemos pela data da partida. O dia em que se chega ao aeroporto e se sente aquele nervoso miudinho na altura de se cumprir as formalidades do check in. Tudo muito natural, não fossem os primeiros sinais se revelarem pouco animadores.
O primeiro percalço do dia surgiu no momento em que passei para a zona de controlo da bagagem. Após a revista, o segurança informou-me que teria de retirar os produtos da bolsa e colocá-los num saco de plástico. Saí, então, do local e dirigi-me à máquina de aquisição do dito invólucro. Ultrapassado o impasse e as respetivas formalidades, olhei para o relógio e dei conta de que faltavam escassos minutos para o voo descolar. Só deu tempo para acelerar o passo em direção à zona de embarque, mostrar o bilhete e suspirar de alívio quando me sentei a bordo do Airbus A310.
Mais tarde, já em solo lituano, fui alugar uma viatura, mesmo à saída do aeroporto de Vílnius. Até aí tudo bem. O carro até parecia jeitoso, mas deparei-me com um problema: apenas tinha mudanças automáticas. Meti, então, a primeira e... nada! Não reagia nem arrancava dali. Após várias tentativas infrutíferas, e como o tempo urgia, resolvi ceder o volante ao meu colega que, com maior ou menor dificuldade, lá desenrascou a situação.
 
Vi as malas e os computadores voarem do porta-bagagens e espalharem-se pela estrada

Mas o pior ainda estava para vir. Estávamos nós em plena via rápida quando, num olhar de soslaio para o retrovisor - sim porque nenhum de nós sentiu um sopro de vento que fosse -, vi as malas e os computadores a voarem do porta-bagagens e a espalharem-se pela estrada fora. Saímos, então, a correr do carro e, à medida que rezávamos para que nenhuma viatura surgisse e abalroasse aquilo tudo, lá recolhemos a nossa bagagem.
Refeitos do susto, a verdade é que este inusitado episódio não passou ao lado de umas boas gargalhadas, as quais tiveram o condão de animar a restante viagem até Kaunas, a segunda maior cidade da Lituânia. 
Qua | 19.10.22

Amanhecer violento

Pedro

Há noites de outono que parecem dias de verão. Confuso? Passo a explicar. Há uns anos, na minha viagem a Belgrado, onde fui acompanhar a Seleção Nacional Sub-21 - que treinou no mítico estádio Maracanã, propriedade do Estrela Vermelha -, deparei-me com um calor impróprio para a época. Estávamos em meados de setembro e os termómetros apontavam para valores acima dos 40º centígrados. Se os dias eram, naturalmente, sufocantes, as noites tropicais, essas, recomendavam uma boa dormida ao relento. E, bem vistas as coisas, talvez não fosse uma má ideia se soubesse o tormento que iria passar naquele quarto de hotel.

Assim que lá cheguei, dei conta de que o exíguo espaço não usufruía de ar condicionado. Lá terei eu de enfrentar este calor abrasador toda a noite, mas não há nada que não se resolva, pensei eu. Abri, então, a janela, que se situava em frente à cama e, quando me preparava para fechar o cortinado e baixar a persiana, a verdade é que… nem vê-las!

O mesmo será dizer que passei a noite toda sem dormir porque lá para as cinco da manhã já o sol raiava e a claridade, assim como o calor, entravam no quarto sem pedir licença. E não, não vinha preparado com uma venda para os olhos. Foram duas noites em claro que nem o cansaço da viagem e o longo dia de trabalho lograram vencer. Ai minha rica caminha!

Sab | 15.10.22

O legado dos Roxette

Pedro

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Quando Marie Fredriksson, vocalista dos Roxette, faleceu (os últimos 17 anos foram de sofrimento para a cantora na luta contra a doença), veio-me à memória o quão importante é a música em determinadas fases da nossa vida. A mítica banda sueca começou a entrar nas minhas preferências musicais no início dos anos 90 ao ponto de incluir algumas das suas canções na banda sonora dos filmes caseiros que fazia com a antiga câmara de vídeo.

Não raras vezes recordo, com nostalgia, as minhas férias de verão dessa altura, habitualmente passadas no Sul de Espanha e nas ilhas Baleares, e a cada imagem, a cada momento, era comum associar um clássico dos Roxette, como Spending my timeHow do you do! ou It must have been love, nas referidas gravações. Nunca vi, é certo, nenhum concerto ao vivo dos Roxette, nem sei se eles alguma vez vieram atuar a Portugal, mas a verdade é que a dupla pop, formada por Marie Fredriksson e Per Gesle, deixou um legado importante no panorama musical dos nossos dias.

Sex | 14.10.22

O tempo em que ia ver a bola

Pedro

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Tenho saudades dos tempos em que ia à bola com o meu pai. Daqueles tempos. Do tempo em que tinha de ir com duas horas de antecedência para arranjar um bom lugar no estádio. É certo que hoje em dia ainda me permitem fazê-lo, mas não é a mesma coisa. Os lugares já são marcados e o recinto, esse, mantém-se vazio. Vazio de gente e de memórias.

Lembro-me da minha felicidade em ir ao Estádio da Luz aos domingos à tarde. De comer uma ‘bucha’ numa qualquer rulote momentos antes de subir os degraus da bancada à procura de um espaço acolhedor. Um espaço onde não haviam cadeiras. “Não se importa de chegar um pouco para lá?”, alvitrava, com a almofada na mão, na esperança de encontrar um lugar com o melhor ângulo de visão possível.

A ida ao bar para beber um cafezinho antecedia a rotina diária do movimento feirante nas bancadas. Não raras vezes ouvia lá ao fundo as vozes que nos enchiam a alma e… o estômago. Quem não se recorda do ‘olá fresquinho’, ‘é só nougat’ ou ‘olha as queijadas de Sintra’?

Naquele anfiteatro, de tão gratas recordações, até o tradicional aquecimento das equipas era motivo de tertúlia e de discussão. E não haviam cá ‘speakers’ a gritar em plenos altifalantes. Apenas a música e o som ambiente davam brilho a um espetáculo que se perdeu no tempo. Refém das tecnologias e dos novos hábitos, é nestas alturas que me lembro do afamado tema de António Mourão “Ó tempo, volta p’ra trás” …